Inteligência Emocional – A habilidade do futuro

Certamente você já ouviu falar em inteligência emocional (IE). Alguns chamam de consciência emocional ou ainda, maturidade emocional.

Mas, vamos lá. Focando no termo inteligência emocional, partindo do conceito de multiplicidade de inteligências, ter consciência sobre as próprias emoções é algo que, cada vez mais, os recrutadores buscam analisar nos processos seletivos. Isso porque, a frase “as pessoas são contratadas por suas habilidades técnicas, mas são demitidas pelo seu comportamento”, segue sendo uma realidade há muitas décadas.

Porém, ao que parece, a inteligência emocional passou a ser objeto de estudos mais profundos e está sendo cada vez mais valorizada como habilidade para o mercado de trabalho. Ou seja, quando você diz para o seu chefe ou seu colega de trabalho “hoje estou num dia ruim”, atualmente é visto como algo positivo partindo do conceito do autoconhecimento. Em outras palavras, você se conhece a ponto de entender que não está bem e externalizar isso de maneira educada para que as pessoas respeitem seu espaço naquele dia…

A verdade é que, quando paramos para pensar e refletir sobre as ferramentas de IA – Inteligência Artificial, Machine Learning, Blockchain e tantas outras tecnologias que conseguem substituir, e por vezes até mesmo superar habilidades técnicas de uma pessoa, fica fácil entender porque a inteligência emocional é o grande diferencial do profissional do futuro.

Não é uma habilidade nata. Ou seja, ninguém nasce com inteligência emocional, a pessoa desenvolve. 

Mas afinal, o que é inteligência emocional?

Resumindo é a capacidade de identificar as próprias emoções e sentimentos, e lidar com situações complexas, que despertam gatilhos emocionais, de maneira madura e equilibrada. 

Em outras palavras, a inteligência emocional, quando desenvolvida, é traduzida em habilidades comportamentais, que o indivíduo demonstra na forma como lida diante de frustrações ou alguma situação desafiadora; especialmente do ponto de vista emocional. 

Por exemplo: imagine que você tem uma apresentação com o cliente e minutos antes vai tomar um café. Alguém esbarra em você e derruba café na sua blusa. Esse simples episódio que parece tolo, pode ser um gatilho emocional que vai desestabilizar a pessoa. O desenvolvimento da inteligência emocional vai desde administrar situações como essa, a questões maiores, como um assédio ou um bug no sistema.   

Quando bem trabalhada, é uma competência que traz maior equilíbrio tanto para a vida pessoal quanto profissional; refletindo no lado profissional com ascensão na carreira. 

Para a psicologia, além desse autoconhecimento, a inteligência emocional é também a capacidade de ter empatia. Ou seja, de identificar e lidar com sentimentos e emoções de outros indivíduos.

Por exemplo: você está num dia ótimo no seu trabalho e alguém chega distribuindo grosseria e mau humor. Essa capacidade empática de tentar entender que a pessoa está num dia ruim e não se “contaminar com essa energia”, também faz parte do escopo da inteligência emocional.

Ser Inteligente vs Ter Inteligência Emocional desenvolvida

Ser inteligente, do ponto de vista das capacidades cerebrais, por muito tempo, e até hoje (para alguns), é algo medido pelo famoso QI – Quociente de Inteligência. O conceito que, em linhas gerais, por meio de testes avaliam as capacidades cognitivas de um sujeito, e a partir disso atribui-se uma nota do quão inteligente a pessoa é, é uma teoria antiga e que nada tem a ver com inteligência emocional. 

Dentro da teoria da inteligência são avaliadas capacidades cognitivas atreladas a habilidade de raciocínio, pensamento lógico matemático, soluções para problemas abstratos, capacidade de aprendizado rápido, etc. Tudo isso tem a ver com o desenvolvimento cognitivo e não emocional

Desconstruindo a teoria da inteligência única, que tem como base o cálculo de QI, o psicólogo Howard Gardner, apresentou, na década de 80, a teoria das múltiplas inteligências

Na teoria de Gardner, as Múltiplas Inteligências se dividem em:

  • Musical
  • Naturalista
  • Linguística
  • Interpessoal
  • Intrapessoal
  • Visual/Espacial
  • Lógica/Matemática
  • Corporal/Cinestésica   

Já a teoria da Inteligência Emocional, do psicólogo e jornalista Daniel Goleman, está diretamente relacionada à inteligência Interpessoal e Intrapessoal da teoria de Gardner.

Continue a leitura para entender a importância da inteligência emocional na vida e no mercado de trabalho…

Características e Domínio da IE

Ao atribuir 80% do sucesso profissional das pessoas a fatores ligados à inteligência emocional, Goleman,  identificou cinco principais características entre as que apresentavam tal habilidade.

  1. AutoMotivação – quanto a resiliência e perseverança
  2. Autocontrole emocional – com relação a percepção de gatilhos sentimentais
  3. Autoconhecimento e consciência – quanto às capacidades e limitações
  4. Boa capacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais e diferenciá-los com relação ao distanciamento emocional
  5. Capacidade de identificar a projeção quanto ao reconhecimento das suas emoções em outras pessoas e vice versa

Claro que existem outras características. Mas, com essas cinco bem desenvolvidas, você já consegue se destacar no mercado de trabalho. E aí, se identifica com alguma? 

Uma coisa é certa – desenvolver a inteligência emocional é uma possibilidade que depende muito da vontade individual. Depois, da oportunidade de ter o auxílio profissional nesse processo de autoconhecimento, etc.

Ter o domínio sobre a própria inteligência emocional não significa controlar todas as emoções ou deixar de senti-las. Significa dizer que a pessoa é capaz de perceber e nomear as emoções, para além dos sentimentos básicos como: alegria, raiva, tristeza, medo e nojo. Essas, até uma criança na primeira infância já consegue externalizar; ainda que nem sempre saiba como lidar.

Alívio, tédio, angústia. Entusiasmo, euforia, excitação, desejo. Frustração, decepção, surpresa. Ansiedade, expectativa, esperança. Pena, compaixão, misericórdia. Amor, paixão, afeto. Rancor, ódio, inveja. Confiança, ciúmes, encantamento. Admiração, aversão, idolatria. Nostalgia, saudade. 

O grande desafio é entender que nenhum desses sentimentos e emoções são sinônimos; por mais parecidos que possam ser. E ainda, vivemos uma geração de pessoas que confunde tristeza com depressão e que banaliza os estudos acerca do autoconhecimento, como “mimimi de autoajuda”.

Saber nomear o que se sente é o primeiro passo para dominar o que será feito. Em outras palavras, se você entende que está ansioso ou ansiosa, e que isso está interferindo na sua produtividade e ainda, que não é uma simples expectativa, será mais fácil procurar ajuda para cuidar e diminuir os efeitos que essa emoção, desequilibrada, está causando.

Além disso, com o desenvolvimento dessa consciência emocional, será possível aprender e entender quais são os gatilhos de cada uma para a partir daí desenvolver maneiras de lidar com as situações.

A importância de desenvolver a inteligência emocional no trabalho

Se você chegou até aqui já entendeu a importância da inteligência emocional tanto para o âmbito pessoal quanto profissional. Mas agora vamos dar alguns exemplos de situações práticas de que o desenvolvimento da inteligência emocional te ajudam no trabalho. 

Inteligência Emocional – Imprevisto na Palestra

Você prepara uma palestra dinâmica e interativa para apresentar os resultados ao seu superior e falta energia. Você está em período de experiência, é novo na empresa e é o último dia para apresentar os relatórios que serão base para traçar as metas para o próximo mês. 

Ao invés de entrar em pânico ou simplesmente justificar que “não dá para apresentar pois faltou energia e a culpa não é sua”; como você tem desenvolvido sua inteligência emocional, você apresenta soluções

  1. Levou seu tablet ou Ipad carregado onde tem o backup da apresentação e, apesar de não conseguir fazer da maneira ideal, entregará o trabalho da forma possível. Ou seja, encaminhando por e-mail para que seu superior acompanhe a apresentação pelo celular dele.
  2. Pergunta se prefere agendar para outro dia.
  3. Sugere ir a um coworking próximo ao escritório.
  4. Propõe que a apresentação seja feita remotamente, indo para algum lugar com energia, onde você pode compartilhar a apresentação na tela do seu notebook

Enfim, ao invés de deixar o nervosismo da situação dominar sua cabeça, você busca solucionar a questão, independente da adversidade ter sido sua responsabilidade ou não.

IE – A caminho da Aula

Você é professor, preparou sua aula e a caminho da instituição de ensino, o carro deu pane. Você liga para o seguro que diz que o guincho vai demorar. Ao invés de esbravejar ao telefone, ou ser grosseiro com quem está a sua volta, você pode:

  1. Tentar  estacionar o carro em local seguro, trancar o carro e chamar um veículo por aplicativo.
  2. Se não for possível, você imediatamente telefona para a instituição para relatar o ocorrido.
  3. Você pode ainda, ligar para algum amigo ou alguém que possa lhe socorrer, nem que seja para a pessoa esperar o guincho chegar enquanto você segue de táxi para dar sua aula.

Enfim, a inteligência emocional te permite manter a calma e pensar em soluções. 

Inteligência Emocional na Reunião Online

Alguém se conecta na reunião online e já começa reclamando da chuva, da internet que está lenta, da noite mal dormida, do cachorro do vizinho que não para de latir… 

Cada reclamação reflete sua emoção, certo? Se você trabalhar a inteligência emocional você consegue separar o que é seu, e o que é do outro… Os sentimentos contagiam, tanto positivamente quanto negativamente. Não à toa existe a terapia do riso. 

Você já se encontrou em alguma situação de ouvir uma pessoa rindo e, sem saber o motivo da risada, sentir vontade de rir também? É isso. Mas nesse caso, não precisa tentar controlar. Afinal o riso libera serotonina e só vai te fazer bem.

IE – Insônia

Você teve insônia, mas conseguiu levantar sem se atrasar. Porém está cansada. Primeiro ponto é perceber que você não está triste, com raiva, desanimada, desmotivada. Você só está cansada porque teve uma noite mal dormida. 

Sabendo disso, você sabe que um bom café da manhã vai te ajudar. E assim você segue seu dia, fazendo suas tarefas. Percebe então que das 4 entregas que precisava fazer naquele dia, só conseguirá “dar conta” de fazer três bem feitas.

Você, consciente da sua capacidade e limitação, conversa com seu superior, explica a situação, garante que irá entregar as 3, e cumpre.

Nessa situação, se você acordasse aflita por não ter dormido bem, possivelmente não conseguiria fazer as entregas ou as faria com baixa qualidade. 

Aqui vale uma ressalva: Tendo que ficar uma para o dia seguinte, é importante entender qual é prioridade. 

Porque a Inteligência Emocional é considerada a habilidade do líder do futuro?

Todo técnico esportivo, ou a maioria, são ótimos exemplos do quanto usar da inteligência emocional é algo que contribui para alcançar os objetivos. Não é uma tarefa fácil, mas para inspirar, o líder precisa saber como provocar os gatilhos emocionais certos, de acordo com cada situação. 

O grande desafio é como despertar a emoção que o líder precisa que seja acordada para direcionar de modo que reflita positivamente na performance dos atletas, no caso do exemplo esportivo. Por isso é a habilidade do profissional do futuro.

A inteligência emocional permite o entendimento das emoções e com isso fica mais fácil gerenciar os sentimentos de modo a equilibrar a maneira como agimos diante de situações que os dispertam.

5 dicas para desenvolver a Inteligência Emocional.

Considere a seguinte situação: você vai dar uma palestra e está tudo pronto. Você está interagindo e socializando no “Welcome Coffee”. Nesse momento você está numa rodinha em que alguém faz uma “piada”, todos dão risada, mas, por alguma razão você fica constrangido ou constrangida. 

Poucos minutos depois a equipe de cerimonial sinaliza que está na hora de você entrar para a palestra. Você trava, gagueja, treme… 

Sem dramatizar demais o exemplo, o objetivo aqui é demonstrar que aquela piada possivelmente despertou um gatilho negativo no seu equilíbrio emocional e te desestabilizou; ainda que você não consiga identificar na hora.

O que será que aconteceu? Qual gatilho emocional aquela piada dispertou? Quais emoções foram provocadas?

O desenvolvimento da inteligência emocional atua justamente nesse ponto. Em identificar qual emoção ou sentimento aquela piada despertou e porquê. 

Então, uma pessoa com inteligência emocional não é afetada? Não é isso. A questão aqui é, a pessoa com IE, conseguiria perceber e usar alguma técnica para contornar a situação. Ainda que fosse apenas pedir 10 minutos para a equipe do cerimonial, para tomar uma água e se recompor. 

Além disso, existem técnicas de PNL – Programação Neurolinguística que podem ser estudadas para colocar em prática em situações como essas. 

Agora sim, depois desse último exemplo as dicas para começar a trabalhar sua IE

  1. Auto Observação – Não tenha medo de ter consciência sobre seus sentimentos, comportamento e reações.
  2. Tente identificar e dar nome às suas emoções – se conseguir, anote o que sente, quando sente e porque sente. “Fiquei irritada quando minha filha derrubou o copo d’água na mesa. Porque eu fiquei irritada com isso?”
  3. Estude métodos de mindfulness, PNL, CNV – tudo isso vai ajudar para melhorar sua comunicação, atenção, concentração e performance.
  4. Procure mecanismos para tirar seu cérebro do modo “react” – ou seja, treine a mente para pensar soluções ao invés de simplesmente “reagir”.
  5. Identifique o que funciona para você. Como você pode encontrar esse autoconhecimento? Psicoterapia? Praticando esporte? Fazendo meditação? Enfim, procure conhecer, sem medo ou preconceitos suas potencialidade, fraquezas e limites.

Por fim vale ressaltar que a IE não descarta a importância das habilidades e características cognitivas como visão estratégica, raciocínio lógico e proatividade para solucionar problemas. Mas, ainda assim é o maior diferencial humano dos últimos tempos.